O ready-made é uma manifestação radical da intenção de Marcel Duchamp de romper com a artesania da operação artística, uma vez que se trata de apropriar-se de algo que já está feito e elevá-lo à categoria de obra de arte.
O objeto pronto, no caso desta série interventiva de poemas, serão matérias diárias de jornais, retratando a questão de gênero e nossa luta social por igualdade, a partir de denúncias de casos de violência às mulheres, sejam elas de cunho sexual ou não.
Serão 33 poemas ReadyMade em 33 dias seguidos, em resposta-impossível aos 33 violadores da adolescente de 16 anos, covardemente estuprada coletivamente no Rio de Janeiro.
Quando foi
Quem foi
Onde foi
Como foi
Por quê?
Se pergunta a vítima
Da violência que sofreu.
Como você se veste, se bebeu ou usou
Drogas
A cada 11 minutos no Brasil
Por quê?
Alguém se pergunta
Hospital
Delegacia
IML
Com entrada separada
– não expor (de)mais a vítima:
Mulheres
Repetir o doloroso relato
Várias
-repetidas-
Vezes:
– Quando Quem Onde Como
Por quê?
Polícia médicos psicólogos
Histórico de tratamento hostil
Repetindo
O doloroso relato
Várias
Repetidas
Vezes
Numa sala de vidro
O vídeo postado
Em redes sociais
– Estupro coletivo –
Delegado duvidou do depoimento
E suspeitos do crime podiam vê-la
Eu nem me lembro
Do Ano Novo de 2012
Sozinha em um bar
Bêbada
Eu não disse que tinha sido estuprada, me contaram por meio de exames.
Eu nem me lembro
E isso é estupro.
O veredicto cabe ao juiz
Mas a sociedade já condena:
Não acontece com gente do bem
Culpa.
Por quê?
Matéria original de 03/06/2016: http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/por-que-a-pergunta-que-vitimas-de-violencia-sexual-nao-ouvem-da-policia-na-inglaterra,179327ad2e3eb8caebdc44cfda659dc1colks45e.html Foto de noellosvald em Flickr
Bea Galvão | Cadernos da Artista 